Solidão...

Moro em uma cidade em que grande parte da população é da terceira idade. Trata-se de um lugarzinho paradisíaco, com paisagens belíssimas e muito sossego, o refúgio ideal para quem está fugindo da loucura dos centros urbanos. Contudo, tenho percebido também que tranquilidade excessiva faz mal a saúde, pois há muitos casos de depressão e a solidão é visível. E como alguns de seus moradores resolvem esse problema? Simples, criando amigos imaginários na terceira idade. Estão achando que é brincadeira.? Gostaria imensamente que fosse, mas não é.
Há aqueles idosos-  os quais tiveram uma ocupação ao longo da vida -  que conseguem interagir, praticam sua atividade física e procuram participar de grupos religiosos, assim saem um pouco, colocam a conversa em dia, conhecem novas pessoas e por aí vai, mantendo a saúde física e mental. 
No entanto, há uma outra parcela de idosos que  cria mundos imaginários e com pessoas imaginárias, vivendo confortavelmente em sua realidade inventada. Consegue vivê-la com tanta intensidade que às vezes nos leva a acreditar em sua existência. Esse é o caso de Dona Robertina, o qual compartilharei com vocês.
Dona  Robertina casou-se na flor da idade, teve dois lindos filhos, um menino e uma menina, e viveu feliz em família, até que enviuvou na meia idade. A partir daí, Robertina não seria mais a mesma. A tristeza, o mau humor e o vazio tomariam conta do seu ser.
Entregou-se a depressão e passou a descontar toda a sua frustração em seus filhos...pobres crianças. A menor desobediência era punida cruelmente, ela os trancava no quarto escuro, os deixava sem comer por dias, os açoitava e assim seguiam as maldades. 
Os vizinhos, ao descobrirem as barbaridades cometidas por aquela a quem as crianças chamavam de mãe, a denunciaram para o conselho tutelar, o qual não tardou e tomou providências.
Logo as crianças passaram pelo legista, e os maus tratos foram confirmados. As crianças foram encaminhadas para o orfanato, e ela nunca mais recebeu notícias.
Passaram-se os anos, Dona Robertina reformou toda a casa e construiu e mobiliou um quarto com tudo do bem e do melhor, pois sempre diz que os filhos virão visitá-la. Assim a cada Natal alimenta a esperança de corrigir os erros do passado.


A fim de superar tamanho arrependimento, procura viver no plano real e no da fantasia ao mesmo tempo, criando várias ESTÓRIAS, com o intiuto de conquistar a nossa atenção. Uma de suas últimas artimanhas é a baixa visão, anda sem bengala, corre, percebe mínimas diferenças nas tonalidades de esmalte, mas é incapaz de nos ver e precisa nos chamar, olhando para o nada e tentando nos identificar pela voz. Outras vezes seu celular chama, sem ninguém vê-lo tocar ou vibrar e precisa se retirar do ambiente para conversar com seu "amigo" e seguem as situações.
O que podemos tirar dessa historinha? 
Para mim, é possível envelhecer saudavelmente, uma vez que o nosso amanhã depende das nossas ações do presente. Sendo assim, se soubermos vivê-lo bem, não precisaremos do mundo da fantasia, para nos sentirmos acolhidos.



Bjks e até logo!

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